Insano silencio nocturno criativo

Profundamente da Existência elementar, linhas colocadas em carreira de tiro caem sobre vosso olhar (duras secas nodosas_

sexta-feira

moléculas dispersas
pensamentos flutuantes
vertigens com salpicos na cave;
fico invadido por inebriantes figuras
ao ritmo das ondas
que se esbatem na minha face
perco encontro acho procuro confuso
a vontade que me liberta
para o planeta que me disperta e potencia
todas as moléculas, vertigens, pensamentos, sentimentos
que invariavelmente me ligam a ti_

domingo

o ar dormia
eu o chamava
a chama acendia e a água flutuava; domínio
constante que possuía
mas inerte fiquei
quando me aproximei
das suas profundezas
donde aparecia o som
e donde nasciam como que a rebentos as palavras
soletrei tudo
mas o nada ganhou
quando só com a roupa fiquei
na cama com o lençol
do hospital
que me sustentou apoiou me levantou
por dias a fio
assim o ar me chegava
quando eu dormia
a chama apagada pela água que me era dada_

sábado

estudei arte
enganei-me na parte
trabalho com direitos
numa empresa que os quer destruir
para eu não os usufruir
e assim bulir
como um combóio a carvão sem parar
sem destino e paragem
acalentar
mas
há sempre um mas
este mas
serve para unir os pontos
os pontos que são distribuídos como linhas
não de combóio mas de fintas
para derrubar ultrapassar mudar
os orientadores da nossa vida
aqueles senhores
que há vinte e nove [29 anos
nos governam em benefício do patronato
mas
tem que haver sempre um mas
há uma força já muito antiga [1921
que luta por nós
nas danças escorregadias da vida
essa força que luta
com o que pode, pois a sua expressão ainda
não derrota os dois galos do poleiro
mas faz mossa
essa força chama-se PCP
e vai coligado nas eleições apresentando-se como CDU_

sexta-feira

isto há-de ter sentido
num verso
noutro texto
noutro sítio
isto há-de ser
o que terá que ser
eloquente ou espalhafatado
exerçam o bem
se existe o pecado
origina e cria
desfaz a ironia
encontra o sítio
nem quero instruir
apenas mimar
o que me faz sorrir
para aguardar
o som do mar
assim todas as rimas
se encontram guardadas
mesmo sem as camisolinhas
vermelhas que passaram a encarnadas_

bosques recônditos em paralelos azuis
na indízivel casta humana
se procura a borboleta flamejante
perpetuada para o infinito num sublime pedestal
deslumbra
ergue-se
brilha ofuscamente
de sentimento a pedra passando por metal
ela rodopia baralha simplesmente maravilha
faz passo trocado
se transforma durante o tornado
perdeu-se de vista, não se encontra o rasto
talvez extinguida
faz já parte do passado
nos bosques recônditos dos paralelos azuis
a casta humana prossegue indefinidamente_

quando alto se ergueu
desafiou os súbditos e se auto-proclamou rei
eu era o lagarto; marcou um tempo
uma era nos seus passos, nos voos, na erva
Inspirou a verdadeira essência
do míudo que galgava e transportava
as quimeras no pensamento_

laços que nos reconfortam em momentos oportunos
outros pedaços em que se afundam
nos braços dos laços erguidos;
nós criados por vós
em que nos causemos e nos damos, como em tudo
só o vento apara e molda com a ajuda do tempo_

quinta-feira

nuvens
carregadas de sons de papagaios
irrompiam
o espaço vazio de criatividade;
chocavam
com lamparinas escuras
que buscavam o ouro negro
apenas com intenção de alumiar os caminhos_

traços no meio de riscos
no final da pintura
que se encadeava e se extraviava
pelos cavaletes
esses sustentados por pontos
que se interligam
no meio de riscos
através de traços
pelos quais se inicía
a pintura_

terça-feira

ajeitei a gola
interpretei a mola bola viola
disfarçado gritei na ganga
tocando a nota na bola
truques no interior da sacola
estão perto gritando:
rasgos; dir-me-ia meu reflexo
se eu o interpreta-se
nos acordes da bola fintando a mola
pintando gotas
no ar se desfaziam_