Insano silencio nocturno criativo

Profundamente da Existência elementar, linhas colocadas em carreira de tiro caem sobre vosso olhar (duras secas nodosas_

quarta-feira

L'ORATORIO D'AURÉLIA

trata-se de um espectáculo irónico e divertido mas também amargo que faz sonhar pequenos e graúdos, oferecendo um momento de pura poesia entre circo, teatro, dança e ilusões!

pequeno auditório do CCB

dias 6 e 7 maio - 21:00
dia 8 maio - 16:00

duração aproximada - 1h15

público alvo M/8 anos

terça-feira

o pássaro azul percorre
o escaravelho recolhe
a besta empurra
o sol abraça
na extensa lonjura;
quadrados disfarçados pontuam
em outrora indeléveis solos
onde os ruminantes serão figurantes
numa batalha
de quadrículas infindáveis num obscuro
vazio;
assim basta-nos criar_


odacided a mim e a meuq arieuq

nasci no tempo cresci ao vento
bebi da água renascida
aquela
que levo trago e transporto no olhar
irrigando minha mente
agora, apenas
contenho
sensatamente minhas lágrimas
pois será delas
que beberei
quando o tempo e o vento
soletrarem o lamento;
o lamento que se condensa cada vez mais
nos ovos livres mas podres_

sábado

Eu estou completamente chocado
pelo que se tem dito
E quero demando E exijo as desculpas imediatas
pelas mentiras atiradas ao grande veículo informativo;

ao som do sol à luz da lua
bitaites que entram pela janela adentro
albergando a escuridão no ermo
das linhas virtualmente cruzadas
elas que impelam solenemente a divagação na mente
na forma emotiva chorona apelativa;
enquanto isso
colheres se colocam nos sonhos da fantasia
a água embebida
é calcada pelos sulcos imaginários irreais
e a prevenção das DST?
essa que é feita pelos indivíduos informados e conscientes
essa que prima por pautar
uma forma forma de vida saudável
essa que deveria ser veiculada ao mundo por todas as pessoas
que detêm o poder
essa prevenção que é tabu
pois a sexualidade não é considerada
parte integrante do Homem
mas sim um prazer que nunca irá passar
de mais um vício nefasto_

terça-feira

o deserto solidificou
nas margens do rio esquecido
aquele que fica à beira
da varanda que não pensa;
uma varanda esbelta imponente e graciosa
mas que apenas
observa o que passa à sua volta
[e então, que tem demais. Não é isso também que eu faço?
amlac zapar; amlac}
dizia eu que ela via o que se passava
na extensão de sua vista
e depois retraía-se
ficando na palheta com a janela indisposta;
Essa ressaviada com a trajectória
de uma bola colorida
que uma simples criança, um dia lançou
deixando-lhe marcas profundas
não física mas mentais (por dizer dos vidros colocados
que não eram do seu agrado
e outras silhuetas que ficaram alteradas. Quais silhuetas?
não responde, mas diz que as alteraram]
a janela dizia para a varanda:
- não te preocupes, a nós não nos afecta
-- mas o pombo avisou-me!
- e tu ligas para esse? ai ai ainda tens
muito que aprender.
-- e o vento está diferente!
- não é nada, é o mesmo. Mudou apenas o perfume.
-- e a chuva arde!
- não eras tu que querias ficar morena?
-- parece que está tudo a desaparecer.
- mas tu já viste que estás preocupada com as pessoas?
Tu és mole ou és pedra? Preocupas-te com
coisas insignificantes, em vez de preocupares-te
contigo.
-- mas eu preocupo-me comigo contigo e com todos!
- queres salvar o mundo é? então vai quero ver o
que vais fazer. Nada. É o que é
tu lá sabes, nem mesmo sabendo quanto mais. Ah!
enquanto isso
uma criança chorava na enorme praça
que mais parecia
uma biblioteca; pois havia silêncio e estava vazia
o puto procurava algo
algo que tinha perdido
pensava a varanda
seria a bola?
avistou com a vista
mas não a enxergou
como o puto não tinha visto
o poste
pois logo viu que duro ele era
e a nossa varandinha
logo se pôs a pensar
que posso eu fazer para o ajudar
-- olha estive a pensar e...
- bem lá estás tu outra vez. Cala-te e deixa-me estar.
Nada te vai afectar. Tu és dura, quem te vai rachar?
O vento? Ele não nos faz mal
O rio? Ah esse já ao tempo que secou.
Eu o avisei, não te metas em lutas
perdidas, mas ele lá me ligou e agora já secou.
Vai por mim e cuida só de ti.
-- tu só gostas de mim porque pensas que
tens o meu controle. É verdade?
- oh minha burra quem disse que eu gosto de ti?
És parva e estúpida todos os dias.
Ai que me fazem falta os meus queridos vidros.
e nisto a janela se agiganta
e lança do parapeito toda a sua fúria
estatelando num ápice
a varanda no chão
sem tempo para reagir
ao golpe maldoso
logo se pôs a pensar
como se iria levantar;
mas uma varanda não anda
ela permanece imóvel
mas era era a mobilidade que ela queria
e a sua vida agora disso dependia
teria que mudar
se auto-analisar e quem sabe
se reestruturar
até que o puto apareceu e lhe disse:
---- oh sen.. senh... senhora va... va... vara... varanda ...
-- é isso! De varanda passo a vara que anda.Vamos lá criança
pega em mim e anda, tu és meus pés e eu os teus olhos.
Vamos lá avante, mais um passo adiante.
e a bola?
essa essa ainda por aí anda
pequenina é certo, mas avança
pula alcança e avança
entre as mãos de quem pensa
[então a varanda pensa ou não pensa?
oh rapaz foi só para rimar_

segunda-feira

alegre e triste
triste e risonho;
ao olhar
lançado por aquela pedra
que se estendia nos caminhos distantes
traçados no mapa de sua mente
eu
bem eu não liguei;
ela entretanto prosseguia no terreno das ervas despidas
se abeirava do meu espaço
se ocupava no meu lugar
eu
bem aí eu debruçei;
ouvindo uma melodia melódica
balanceando-me no baloiço da criatividade
soprado pelo sopro do zépido {ele que se encaracolava nas
ervas nuas
torneando logo de seguida suas primas
as folhas de aba larga;
foi quando me lancei num passo de pura assertividade
interrogando-lhe de forma sincera:
-caminhas-te de onde para atingir o quê?
não me respondeu, ficando inerte ao vento
-repara que eu parado estou e assim ficarei!
agora deixou-se cair tendo
a erva a cobrir sua superfície de forma lasciva
-não não faças isso, é o fascínio que queres?
o fascínio é algo indizível, não o queiras almejar
porque ninguém o possui
olha olha em volta o que vês?
ela se ergue e rodopia, se ergue e rodopia, se ergue e rodopia
{aí eu desço e pela nanomilésima vez
miro o coelho a correr
com o seu relógio de tic tac
aproximo-me do minúsculo tornado
pegando levemente
sinto sua crua energia
toco em toda a sua textura rugosa
abarco os orifícios inebriantes
e lanço-a ao céu}
onde em todo seu esplendor
a pedra se desmaterializa
revelando o seu encanto para mim
ela convertia-se em longas extensões coloridas
do pó surgiam asas
as asas da alegria de minha vida;
as nuvens outrora cinzentas
naquele pedaço de terra que eu ocupava
agora agora eu cantava bem alto pois alto eu rumava
com as asas encaixadas em meu corpo
com as cores intensas sobre mim eu rodava em círculos
e círculos eu fazia naquela imensa vida;
injusta e esquecida
mas completamente vivida_

domingo

acordei
numa nuvem alta
ela que transportava todo o líquido do planeta
movendo-se para onde
lhe apetecia;
ela que mastigava a raiva acolhedora
continha todos aqueles sorrisos rasgados
albergando a imensidão hipócrita
do actual sistema vigente,
através da personagem que a meu lado se encontrava
pude constatar
que a mais alta celebridade
perseguia apenas
muitos minutos de atenção
outros tantos segundos
minuciados pelas pupilas auditivas
sedentas
do visionamento viciante,
até que houve um momento
em que o mundo parou para a processar
de forma ávida
foram os minutos de fama
que uma vez alguém os afirmou de existirem,
em que ela os alcançava ininterruptamente;
e eu lá em cima com ela:
observando-a
interceptando os seus básicos movimentos
analisando a fraquíssima ligação com a realdidade
questionando-lhe as importantes
e mais tantas e tantas outras perguntas
me cresciam ao redor de minha cabeça
estaria a cumprir alguma pena?
porque se encontrava lá?

era de forma consciente que influenciava o mundo?
quais as suas motivações? tinha-as?
calmíssima como o olho de um furacão
nada me disse
estava na sua e assim estava, permanecendo
nos olhares sedentos
da matilha ensurdecedora, onde seus crânios estavam
guardados pelos ácaros
do mundo novo do mundo real (o mundo que rejeitara Rodin)
assim
me julgando, só me restou
de forma intrépida
fazer-me ao ar
obtendo o descontrole inaudito da sensação da queda
que já vivi trezenas de vezes à sextavada
sendo esta a mais recente,
a da queda
da nuvem tóxica
da qual eu me evadi_

erros estruturais
impediram de solicitar o vosso pensamento;
erros estruturais
que para minha pessoa são profundos e marcantes;
erros estruturais
somente isso e nada mais perante o facto já consumado
estrutura_ estrutura_ estrutura_
agora reposta
vamos divagar no silêncio insano:
flutuando
como na brisa, por onde a folha corta o vento
esse que eu barro na água seca
que por acaso tinha colhido da serena tempestade
ela que abre e acalma a pradaria;
outros vales abertos a uma névoa clara e límpida
que se adensa
num copo vazio
esse que sitiado e situado num sítio só
alimenta quem nada faz e quem trata das penas dos peixes;
troca o passo
gira o disco vou andando
respiro o desejo
largo o beijo e arranco da praça,
caminho nas pedras vazias mas estruturadas
que a minha mão se esqueça
que o meu corpo se perca
entre as linhas do tempo indisponível
perco-me e deixo-me perder
mais um pouco de trago
para um passo largo;
deixo-me esbater na rocha e sinto-a
fusões intensas de dor e prazer
onde a textura delineada da superfície rugosa
impele a sensação pura dos rasgos longos e penetrantes
mais a intensa agonia
liberta-me de prazer e alegria;
agora...?
agora...?
agora posso sentir ISSO MESMO quando abraço um braço
visando a presença emanada pelo olhar
do jovem amigo cabeludo
que me trata por palhaço pintor desta vida descolorida
sinto a sua calma na mais completa descontracção
ele pontua no eterno silêncio
mas se satisfaz
apenas isso importa no outro lado da porta;
eu, não a miro e ele...
bem ele está distante, vagueando pelos caminhos incertos
insondados e certamente mágicos
aqueles caminhos que nunca aparecem nas novas antenas_